A curta-metragem, “Mar” (2017), do jovem realizador luso-canadiano, William Vitória, é uma meditação complexa sobre o significado do amor e das emoções primitivas que cada um de nós tem dentro de si.
“Mar” começa com a vista deslumbrante do mar e das rochas ao longo da costa portuguesa. O filme é curto, mas ao mesmo tempo longo nas suas camadas de significado, que se vai revelando por escasso diálogo e breve cenas, que, como vinhetas, nos seduzem a querer seguir a estória de um casal, Xavier e Eduardo, que foram de férias visitar um amigo de infância, o qual vive com a sua mãe numa aldeia costeira de Peniche.
Esta curta-metragem (duração de 24 minutos e 34 segundos) é longa em ideias e deixa-nos perguntando, cena após cena, qual será o mistério que estamos a presenciar, o qual nos custa descobrir, exceto pelas sugestões e pistas dadas no filme, como, por exemplo, quando vemos Cristovão deslizar um polvo para dentro de um jarro, e arrumá-lo junto a jarros que contêm outros animais marinhos igualmente aprisionados, colecionados por este bonito amigo anfitrião, que vem a ser o monstro no filme. Numa outra cena, ele implora à mãe, dizendo-lhe que não quer ser jamais um monstro. Sabemos que a sua mãe conhece a verdade do que o filho é, e que talvez ela o possa controlar, mas não temos a certeza.
Nunca sabemos ao certo porque é que ele é considerado um monstro, mas suspeitamos. Vemos dentro da gruta escura, onde o segredo está escondido, mas o realizador insiste que os seus espetadores descortinem as suas interpretações e significados por si próprios.
Como tudo neste filme, é possível termos várias interpretações das camadas de significados cuidadosamente escondidos pela sugestão, nuance, suspense, um olhar, uma peça de música bem escolhida, uma palavra no diálogo, um caderno com desenhos, uma gruta. Tudo isto nos dá indicações para sabermos o que poderá ser o segredo, e, mesmo quando nós, os espetadores, pensamos que já entendemos o segredo, depois de vermos o assustador mistério da gruta, ainda não conseguiremos ter a certeza do que será realmente o mistério.
“Mar” deixou-me querendo ver mais. O fim chegou depressa demais. O realizador tinha-nos mostrado bastante, em pouco tempo, para deixar a minha mente inquieta, e a querer rever o filme, para certificar-me de que deveras tinha compreendido a mensagem. Talvez o monstro esteja dentro de cada um de nós, portanto, fica para cada um definir o mistério e o monstro “à sua moda”.
Fico ansioso para ver futuros trabalhos deste talentoso jovem realizador, que nos demonstra uma habilidade de construir filmes de qualidade superior, como já o fez com “Mar”.
Fotos de Emanuel Melo: Mar dos Açores